22 de nov. de 2006

Tristeza não tem fim... Felicidade sim...

Durou pouco, mas bem pouco mesmo o período em que teve afirmava que estava curada.
Só afirmava externamente pois sabia que só mesmo o completo pânico de estar fora do controle de suas emoções novamente é que a faziam agir de forma "normal".
E o normal durante todos aqueles anos tinha sido fazer-se forte e suportar por apenas mais um dia aquela vida que aparentemente havia escolhido à ela. Apenas aparentemente havia sido escolhida, pois no fundo sabia muito bem que foi exatamente a ausência de escolhas conscientes que a conduziram àquela via em que sobreviver se sobrepôs ao viver.
E todo o sofrimento e dor que com que se auto flagelou por todo o tempo, na tentativa de fazer as coisas da maneira que achava que esperavam que fizesse, se converteram na agonia que agora vivia... uma tristeza sem fim!
Mas por quê? Esta pergunta a fazia se sentir ainda pior, porque ela não tinha a resposta certa, na verdade não tinha resposta nenhuma do tipo que se espera: "Choro porque dói meu corpo", "Estou triste porque alguém querido faleceu", "Desesperada porque perdi meu emprego", ou ainda, "Sofro porque amo quem não me ama"... Não era nada disso! Muito pelo contrário, tudo parecia ótimo e promissor, então aliava-se a tristeza um sentimento de culpa terrível!!! Estava tudo tão bom, ela não tinha o direito de sentir-se assim!!!
E então passou a evitar qualquer comentário que pudesse fazer com que os outros percebessem a tristeza em sua voz, passou a evitar também o encontro com os velhos personagens de sua história nada velha, afinal eles a conheciam o suficiente para que não fossem necessários os comentários.
Se isolou, e no isolamento teve mais tempo do que gostaria, não mais para lamentar o passado, como teria feito pouco tempo atrás, mas para temer muito pelo futuro... Temor de que as histórias continuassem se repetindo em um ciclo ininterrupto... uma armadilha que ela mesma criara para si.
Depois, não houve mais tempo para o isolamento. Os pensamentos povoavam tudo ao seu redor de uma maneira confusa e perturbadora. Já não havia espaço para mais nada: somente o incessante ir e vir de idéias que sempre chegavam a um único resultado, a certeza de que nada que se fizesse ou dissesse faria desinstalar-se dali aquela infelicidade toda.
Não bastava ser triste, agora sentia-se também fora do seu juízo perfeito, visto que não conseguia fazer parar de surgirem aquelas idéias desagradáveis e que transformavam qualquer notícia ou falta dela um mal presságio.
Assim ela se viu enlouquecida pelo medo de ficar de fato louca, se é que isso é possível. Pensou: "Não, não é possível. Então é fato consumado."
Na certeza da loucura largou-se na cadeira, os pensamentos haviam se concretizado e nada mais adiantaria mesmo. Não sentiu vontade de mais nada e não fez. Deixou de lutar contra eles, os pensamentos. E por mais estranho que parecesse, eles desistiram dela assim que deixou de se importar. E o não fazer nada até mesmo a fez sentir contente.
C.O.N.T.E.N.T.A.M.E.N.T.O
Nem acreditou no que estava acontecendo.

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"Bom Dia, Tristeza"(canção de Vinícius de Moraes e Adoniran Barbosa)
Bom dia tristeza
Que tarde tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando até meio triste
De estar tanto tempo longe de você
Se chegue tristeza
Se sente comigo
Aqui nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar