23 de mai. de 2010

Assuntos recorrentes

Normalmente precisa a bebida entrar para a verdade sair (como diz o ditado). Mas nas amizades antigas, há coisa que nem precisam ser ditas, não é mesmo?

Esta não foi na mesa do bar, foi no banheiro feminino mesmo:
- Nossa… ciúmes de novo?
- É que ainda hoje é o que mais me atormenta.
- Como assim? Ciúmes de quem agora?
- Ah de quem… ainda pergunta?
- Mas já?
- Ainda… É uma condição natural da minha existência. Nada do que eu faça pode impedir a escolha dele de estar com outro alguém. Mas… Não consigo evitar me sentir assim, como que constantemente ameaçada pela possibilidade de não ser pra ele o que ele é pra mim. Nem sei se tem alguma coisa a ver especificamente com o objeto do meu ciúme.
- “Objeto”…ui…hahahaha. Você é idiota e incrível. Incrivelmente idiota. E com quem mais ele gostaria de estar? Só se for mais idiota que você!
- Não se trata disto. Nem sempre a escolha é pelo melhor. Às vezes só pelo diferente. Novo. Pela descoberta. Pelo não habitual. Isto é que me assusta.
- Te entendo. Só não tenho coragem, mas me sinto exatamente assim. Curiosa pelo novo, quase sempre. Mas não coloco nada em prática…quer dizer, quase nunca.
- Falta de coragem. Somos todas covardes mesmo, exceto você pelo último fim de semana…hahahaha… Aposto que ele nem imagina que você seja capaz, afinal somos todas covardes mesmo? Hahaha…. Li outro dia que as relações fracassam por se basearem num modelo de co-dependência que é o das relações entre mães e filhos. Faz sentido pra você?
- Nossa faz todo sentido… Um monte de frustrações sendo projetadas no outro. Quando você se cansa, aposta em mudar o foco da projeção. Afinal é mais fácil do que ter que se encarar no outro e resolver.
- É encarar assim, na frente do espelho.
Trocaram olhares assustados, desta vez sem ter o espelho como intermediário.
- Vamos?
- Vamos. Preciso de um sapato novo.

20 de mai. de 2010

Meu menino

Meu menino tem o abraço que mais encaixou nos meus braços até hoje.

Ele tem aquele jeito de me olhar nos olhos e saber mais do que eu digo com o que enxerga dentro deles.
E me olha como se nada mais importasse pra ele naquele momento.
Meu menino tem a boca macia que percorre meu pescoço e meus cabelos enquanto suas mãos me seguram firme e me entrego ao sono.
Ele me diz muito menos do que gostaria de saber e me surpreende a todo momento com o pouco que diz.
Ele me faz rir e me deixa a vontade com o meu silêncio.
Meu menino me dá espaço, mas não o suficiente pra eu achar que ele não se importa.
Passamos e finjo não reparar nos pares de olhos que passam dele pra mim e de mim pra ele. Surpresos? Admirados? Não sei e sei que não deixam de ver nele a beleza que eu vejo.
Sim, meu menino é belo, naturalmente encantador e doce…
Ele tem um daqueles sorrisos que iluminam tudo ao redor e faz as pessoas sorrirem, sem nem mesmo entenderem o porquê.
Ele é espontâneo e inocente, ainda que a malícia na sua voz me chamando me faça esquecer disso.
Meu menino não é só um menino, ou já seria de fato, meu e só meu.